256. Provador

12:23

Tema: Encontrou uma bolsa cheia de dinheiro e sem documentos

A mulher que ficava em frente ao provador me olhou estranho quando apareci pela segunda vez com dez peças de roupas nos braços querendo prova-las. Rosana, pelo que li em seu crachá, não devia ter o que fazer na sua terça-feira entediante, já que ficava decorando o rosto dos clientes indecisos da loja de departamento que trabalhava.

Ela me entregou o cartão com um 10 verde neon e me acompanhou com o olhar enquanto eu entrava na cabine. "Rosana, querida, que tipo de perseguidora de clientes você é?" pensei enquanto fechava a cabine e me deparava com aquilo.

E com aquilo eu quero dizer uma bolsa tamanho médio preta pendurada no gancho da porta. Isso não é nada anormal, afinal algumas pessoas andam tão avoadas por aí que esquecem tudo o que tem em qualquer lugar, e não venha me dizer que não. Eu, por exemplo, já esqueci a minha bolsa duas vezes no banheiro de shoppings, sem contar os cadernos deixados no colégio.

Decidi ignorar a bolsa e provar as peças, e quando terminasse de ver todas, entregaria a bolsa para a Rosana e ela daria um jeito nela, certo? Errado. Sou uma pessoa muito curiosa, então assim que terminei de tirar os jeans que usava e colocar um vestido, uma pontada de curiosidade aflorou em minha mente e em questão de segundos a tomou por completo e eu nada pude fazer além de abrir a bolsa e me segurar para não gritar.

Dentro daquela maravilhosa bolsa de couro, estava um rio de dinheiro. A cor azul e o bege saltavam de aglomerados presos com elásticos. Sim, elásticos! Respirei fundo e olhei em volta procurando alguma câmera escondida. Não tinha nada, procurei dentro da bolsa e nada mais uma vez. Fiquei pensando em quantos segundos a  Rosana apareceria para rir da minha cara e dizer que era uma pegadinha, afinal nem documentos havia na bolsa.

Porém a Rosana e nenhuma outra pessoa bateram na minha porta dez segundos após eu colocar a mão na boca para não gritar. Rapidamente uma imagem de uma gangue russa me perseguindo por ter visto a bolsa passou pela minha cabeça e cheguei a conclusão que era melhor dar um jeito naquilo antes de ter uma bala no meio da cabeça.

Troquei rapidamente o dinheiro da bolsa pelos itens variados e impessoais da minha mochila. Afinal se eu deixasse a bolsa vazia seria muito suspeito. Quando a troca estava completa tirei o vestido e coloquei as minhas roupas. Peguei o celular para forjar uma ligação, entreguei as roupas que eu não queria para a Rosana e me encaminhei para o caixa vazio com o vestido que nem tinha ficado tão bom assim.

Depois de sair da loja caminhei quase correndo pela saída mais próxima com um ponto de táxi. Entrei no primeiro carro com um motorista que não tivesse cara de mafioso e dei o endereço da antiga casa da minha melhor amiga. Quando cheguei lá, soltei do carro e liguei para o meu namorado ir me buscar.

As pessoas da vizinhança que me conheciam acenavam para mim das janelas de suas casas e voltavam para seus afazeres. Mas na minha cabeça elas estavam se encaminhando para o telefone fixo para ligarem para o chefão russo para informar a minha localização.

Dez minutos depois o carro azul escuro do Rafael entrava na rua e eu quase morri de alivio. Abri a porta e ele me olhou assustado, pois comecei a chorar. Porque naquele exato momento, sentada no banco do carro ao lado do meu amor eu percebi que não havia encontrado uma bolsa de dinheiro. Eu havia negociado o preço da minha paz.

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